22 de janeiro de 2011

Fragmentos de afetos de uma turnê pelos terminais da Grande Vitória

Inicialmente queria escrever um texto sobre os afetos do Terminal Tour, escrevi alguns rascunhos, partes que me afetaram mais foram escritas logo que cheguei em casa. Agora, passado algumas semanas resolvi pegar esses relatos e montar o texto, mas minha memória falha e não consegui resgatar muitos afetos daquele dia. Preferi deixar o texto entrecortado do que manipular e florear os afetos já existentes só pra ficar mais bonito e corrido. Gosto dele assim, composto com tudo o que digeri daquele passeio. x)

Eles começaram em Laranjeiras. Nós os acompanhamos a partir de Carapina. Os instrumentos: Um violão, uma voz e uma concertina. Os personagens: Denis e Murilo. Os coadjuvantes: Julia, Júlia e Endi. Público Alvo: Transeuntes. O setlist era composto de músicas desconhecidas: Ramuma (Alina Orlova) e Við Spilum Endalaust (Sigur Rós); de músicas não muito conhecidas pelo público alvo: On the Radio (Regina Spektor) e Elephant Gun (Beirut); e a clássica Bandeira Branca.
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Eu e Júlia chegamos no Terminal de Carapina de carro. Os meninos já estavam lá, nos esperando para começar. O lugar estava movimentado pra um sábado à tarde e com uma barulheira. Eles começaram a tocar e não conseguiamos ouvir muito bem, sendo que estavamos há menos de 2 metros deles. Me senti um pouco desconfortável nessa primeira parada. Estávamos em pé em frente a eles, paradas no meio do terminal. As pessoas passavam toda hora, muitas vezes sem nem olhar para quem tocava. Alguns olhares curiosos, mas que pareciam ter medo de olhar mais 5 segundos e ter que dar algum dinheiro. Foi a impressão que eu tive. Me incomodei muito!
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Quando eles acabaram eu e Júlia fomos comprar água num bar ali do lado. Um moço que trabalhava no bar perguntou o que eles estavam fazendo, se era uma serenata e qual o motivo deles estarem tocando. Eu ainda me sentia desconfortável e respondi com palavras vagas como: não, estão se divertindo...
Depois a Júlia me falou que todo mundo que estava no bar tava assistindo os meninos tocarem, eu não tinha percebido isso.
Quando eu sai houve um primeiro estalo do movimento que se formava nesse Terminal Tour. As pessoas a nossa volta eram afetadas de alguma forma pelo espetáculo. Em volta de nós se formava uma rede invisível de sons, imagens, energia, afetos: Entre os meninos e nós, entre os meninos e e os transeuntes e entre nós e os transeuntes. Não importa se as pessoas se sentiam incomodadas, se ignoravam o que acontecia ou paravam para olhar. Se estavam desconfiadas, atrasadas ou curiosas. Algo daquilo ali tocava elas de algum modo.
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Pegamos o ônibus pro Terminal Vila Velha. Adoro ônibus com caminhos compridos. Eu sempre começo a viajar na paisagem, me perder em pensamentos e a rir sozinha. Eu sempre prefiro ir de ônibus pros lugares do que pegar o carro.
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Terminal V.V:
Uma senhora vendendo algodão doce ficou em pé do meu lado. Ela ria e trocavamos olhares risonhos quando o cara bêbado dançava ou conversava com os meninos.
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O cara bêbado que dançava com os meninos quis dar o celular dele pro Murilo. Muitas pessoas que esperavam o ônibus ficaram olhando os meninos tocarem.
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A última parada era então Itaparica. O final de tarde estava lindo e de dentro do ônibus eu via a paisagem de prédios cada vez mais rarear. A última coisa que me chamou atenção antes de chegarmos ao Terminal foi um motel chamado Dunas, que me lembrou Itaúnas. O terminal Itaparica é LINDO. Muito melhor que a Rodoviária e qualquer Terminal, até mais bonito que o Jardim América que já é bonitinho. Ele é grande, arejado, organizado, limpo. Descemos do ônibus e os meninos foram escolher um lugar pra ficar. Havia uma parte do terminal cheia de gente e eu quis dar pitaco pra ficarmos ali, mas preferi ficar quieta e deixar que os artistas escolhessem. Não gosto de me meter nessas coisas. Eles escolheram um lugar vazio. E nós sentamos num banquinho sob uma placa avisando que o onibus dali partia pra Santa Paula.
No início não havia ninguém, passavam poucas pessoas. Depois um cara passou por ali e resolveu ficar olhando. Um casal ia pegar o onibus pra Santa Paula e sentou do meu lado. Ficaram observando. O homem foi até lá e voltou. E me perguntaram se eles queriam dinheiro. Comecei a conversar com eles, falar sobre a turnê pelos terminais. Eles gostaram da ideia. Falaram do baixo incentivo aos calouros (palavras deles) da musica em Vitória. Perguntaram se estavamos indo pra Santa Paula. "Não, não, essa é nossa última parada" Respondi. Comentaram sobre a harmonia entre o violão e a concertina (o homem foi o único em todos terminais que sabia o nome do instrumento) e sobre a voz do Denis ser bonita. A última musica foi Bandeira Branca e o homem falou que os clássicos nunca acabam, que o avô dele já cantava aquela música pra ele e os jovens de hoje continuam cantando. O show acabou, dei tchau pra eles. Não sabia bem se deveria dar boa viagem ou não pra eles, já que não sei onde fica Santa Paula e deixei por isso mesmo.
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Pegamos um ônibus pra UFES e passei o caminho sorrindo pro Por do Sol porque aquele tinha sido um bom encontro. As músicas, os músicos, a reação das pessoas em todos os terminais valeram a pena.

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