17 de setembro de 2009

Levitar

Divisei um homem no final da rua. Ele vestia bege e tinha uma cara meio bege. Os cabelos brancos caiam pelas orelhas grandes e uniam-se a barba grande. Divisei esse homem que vestia bege e que me parecia invisível a não ser pelos cabelos e barbas brancos.
Comecei então a dividi-lo em partes, como se a cabeça branca levitassse enquanto o corpo sumia no horizonte e os pés vestidos com um sapato social preto sobrassem no chão.
Cabeça e pés, tão separados.
A cabeça nas nuvens e os pés no chão. O corpo não interessa.
O coração daquele homem também deveria ser bege, sua vida devia ser bege pensei.
Sua cabeça não estava junto com seus pés, nem com seu corpo. Nem os pés estavam junto com a cabeça e nem com seu corpo.
O homem dividido que eu divisei foi embora, deixando pra trás seu corpo bege, só foi a cabeça e os pés embora. Cada um para o seu lado. Os pés foram comprar pão, enquanto a cabeça foi trabalhar.
O corpo bege ficou sozinho, um pouco desgovernado sem cabeça e sem pés. A mão bege me deu um tchau, coçou o saco e ficou ali esperando a vida passar.

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