6 de março de 2009

A vida ali é seca. A pele é seca, a terra é seca, o céu é seco, Deus é seco. Os olhos são molhados. O choro vem devagar com a lembrança do Nhô Miguel, que saiu para ganhar a vida na cidade grande e de lá não voltou.
As vezes chega notícia, mas a vida de quem vai do Nordeste para a Grande São Paulo parece tão difícil quanto a que se vive ali.
O choro termina quando a pele manchada de sol do antebraço esfrega a face, num esforço de que junto com as lágrimas cessem as lembranças e os desejos. Ele não sabe se valeia a pena jogar tudo para o alto e reconstruir longe da terra natal.
Nhô Zerê volta a enchada ao solo seco. Tem medo de que o pouco que colhe não sustente a família e o próximo filho que espera na barriga da mulher, mas não é hora de pensar, ainda faltam muitas horas para o árduo trabalho chegar ao fim.
O sol à pino castiga-lhe o corpo, castiga o Sertão. Ele não sabe se ali é Deus que castiga ou é o Diabo que se diverte. Sua mulher, a Rosa, diz que são os dois, que é Deus e Diabo brigando na Terra do Sol.

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