21 de fevereiro de 2009

Ritual

É complicado, complicado, muito complicado.
Na verdade a história é bem simples, sou eu quem complica, quem analisa cada instante.
Por um instante tudo é realidade e eu tento recriar essa realidade na minha cabeça. Não dá certo! Vou parar de analisar os instantes, os segundos, tic, tac, tic, tac... fim.

Eu tive insônia, como nunca havia tido. Foram três, quatro dias sem dormir direito, fechava e abria os olhos umas duas vezes durante dez segundos. Isso aconteceu uma semana antes de sair o resultado da UFES.
Muitas coisas me atordoavam, inclusive a ânsia de ver a lista dos aprovados.
Eu lia um livro que falava sobre morte sempre antes de dormir e isso não me deixava dormir.
Eu me irritava, brigava com as pessoas e tomava banho toda hora pro tempo passar mais rápido, mas à noite eu não conseguia dormir, não conseguia fazer com que o tempo passasse mais rápido pra mim. Insuportável.

O resultado saiu. Eu passei e achei que irradiaria felicidade. Não acredito que não foi assim, que fui tão estúpida ao ponto de pensar o que pensei. Eu não queria! Eu queria fazer pré vestibular, era quase tão insuportável quanto a insônia pensar que uma fase da minha vida havia acabado. Eu cresci e tinha a impressão que não estava preparada pra isso. Eu não queria crescer, Síndrome Peter Pan. Eu preferia fazer pré vestibular, quem sabe ano que vem eu estaria pronta para encerrar mais uma fase da minha vida? Mas que idiotice, que ridículo.

O primeiro contato. Medo. Eu via aquelas pessoas que nem conhecia interagindo, amigas, amigos da faculdade. Eles eram demais pra mim, estranhos demais, empolgados demais, amigos demais, longe demais de mim! Onde eu fui parar, foi o que eu me perguntei. Minha cabeça girava, meu mundo girava. Tudo sempre muda tão rápido assim? As mudanças costumam ser lentas, você só percebe depois que TUDO mudou, mas essa não foi assim, não estava acostumada, nem um pouco. Foi amargo, depois foi doce, foi como se eu estivesse num sonho.

A gente se acostuma, vê que era aquilo mesmo que queria. Eu olhava pra eles, pros veteranos de Psicologia e via que era aquilo que eu queria ser, que é daquela realidade que eu quero pertencer. Não quero pertencer a realidade ali na frente, o branco e azul, branco e azul, branco e azul, paredes, portas, branco e azul, roupas, vida branco e azul. A "evolução do ensino" não seria nenhuma evolução se eu fizesse o pré vestibular. A UFES é a evolução do MEU ensino. É o passo que eu sempre sonhei em dar e que no ultimo instante, o instante em que TUDO foi realidade eu quis dar as costas. Não sou tão covarde e estúpida a esse ponto. Hoje nem sei mais como pude pensar ISSO!

E foi um Ritual. A matrícula. Eu vesti a camisa do Sacré-Couer e não percebi o significado por trás disso. A camisa sujou, os meus veteranos sujaram ela como se cubrissem meu passado. Acabou, não é pra voltar atrás, ande sempre olhando pra frente, cabeça erguida, enfrentando cada desafio. A camisa ainda está suja, coberta de tinta e não quero tirar, não quero limpar, quero que continue coberta de tinta. Porque não vai voltar, eu não vou voltar. Eu venci e quando sair da UFES, daqui a muitos anos, cobrirei a camisa da UFES de tinta também. Cada etapa, cada mudança é um ritual.

Não significa que o que ficou pra trás é esquecido. Meus amigos antigos não serão desfeitos, eu amo eles, mas pretendo amar o que vem agora. Pretendo amar tudo o que me derem.

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