17 de julho de 2010

Um dia azul


Amanheceu.
O telefone tocou uma, tocou duas, tocou três vezes e acordou Tereza.
Tereza nesse dia tinha 22 anos e 6 meses exatamente. Seus olhos estavam borrados da maquiagem do dia anterior e o rímel grudou os cílios ao ponto de ser difícil de abrir o olho.
No dia anterior Tereza se vestiu ao som de Black Eyed Peas, maquiou-se ouvindo Katy Perry e dançou a noite inteira Lady Gaga. Chegou em casa com vontade de deitar ali mesmo no sofá, sem tirar sapato, nem meia calça, nem maquiagem.
Arrependeu-se por não ter tirado a maquiagem no dia anterior, pois os olhos ardiam e estavam melecados de remela preta.
Olhou o celular e não reconheceu o número do qual haviam ligado. Não estava em sua agenda, mas tinha certeza que lhe era familiar. O número ligou de novo e Tereza ficou olhando o celular e repetindo o número mentalmente pra ver se lhe restava alguma lembrança do que fora esquecido. Não lembrou. Só lembrou que um dia aquele número havia sido importante.
Fechou os olhos e limpou a remela.
Rolou alguns minutos na cama.
O celular continuava em suas mãos.
Tereza repetia o número mentalmente.
Levantou num estalo quando lembrou e sorriu.
Eu posso listar aqui os diversos motivos por que Tereza sorriu. Explicações que vinham desde sua infância, acontecimentos recentes e pessoas marcantes.
Tereza sorriu porque naquele dia ela havia esquecido um número que há pouco lhe era muito importante. Sorriu como quem relembra que as vidas passam, repassam e vão embora um dia e talvez voltem. Esquecer aquele número era tão importante quanto ter gravado ele um dia, pois esquecer lhe lembrava que as pessoas são capazes de digerir, lhe lembrava algumas aulas da sua faculdade e lhe trazia uma sensação de leveza.
Sorriu não só por esquecer, mas por ter lembrado que aquela pessoa ainda lhe fazia feliz e que seu coração não apertava, apenas expandia.
Finalmente sorriu porque sabia que naquele dia ela iria à praia. E o dia estava lindo!

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