29 de maio de 2010

Formato Mínimo

Sentou na mureta balançando as perninhas. Procurou os óculos de grau na bolsa e colocou-os, pois desejava ver toda a encenação.
Os dois corpos a sua frente tocavam-se e faziam movimentos obscenos, mas ela não conseguia desviar a atenção, nem queria. Ela precisa de um pouco de voyerismo e um pouco de dorzinha de barriga por aquela dança mal interpretada, mas cheia de realidade na sua frente.
Os dois corpos não paravam de rir de sua carinha nerd de óculos, sentada na mureta com as perninhas balançando. E rindo formavam sua dança de braços, pernas, corpos entrelaçados, cabelos bagunçados.
Sua pele arrepiou quando um dos corpos se afastou e fez o movimento de partida. E sua barriga rodopiou quando o outro corpo não o deixou partir. Os braços se uniram, os cabelos se misturaram e as bocas sumiram, entregues. Foi o que pensou a menina de óculos nerd sentada na mureta balançando as perninhas.
Com seus olhos atentos à sedução não conseguia enxergar nada além de corpos entregues e de seu próprio corpo rígido, imóvel, intocado!
Um dos corpos partiu após um último beijo e um último toque. A menina de óculos observou o outro corpo solitário e teve a nítida vontade de ir lá substituir o corpo que partira. Quem sabe sua dança também não despertaria algo, algum sentimento.
Rígida, continuou parada, observando o outro corpo se levantar. E nesse momento achou que fosse ele quem viria até ela e a chamaria para movimentar-se, para dançar, para respirar um pouco. Não, ele apenas a olhou, com pena por alguém deixar de viver para enxergar a vida dos outros, e foi embora... e ela também foi embora, logo depois, esquecendo da vida um pouco e vivendo pelos outros um tanto, naquele formato mínimo de amar. E nunca mais se viram.

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